"A maioria dos deuses joga dados, mas o Destino joga xadrez, e você não descobre até que seja tarde demais que ele estava jogando com duas rainhas o tempo todo." (Terry Pratchett)

quarta-feira, 16 de março de 2011

Pelúcia abandonada.

Conversando sobre abandonar blogs, meu amigo (amigo? amigo? só amigo?) Jaime (alguém mais conhece um jaime, senhores?) comparou a situação a ter ursinhos de pelúcia abandonados. Ficam num canto e de vez em quando você dá uma olhada neles, empoeirados, mas sempre sorrindo, convidando você a brincar. Uma analogia bastante triste (trágica), não é? Triste porque é verdade. Triste porque é como os meus sonhos estão parecendo agora: pelúcia abandonada.

"É apenas isto: se você vai ser humano, tem um monte de coisas no pacote. Olhos, um coração, dias e vida. Mas são os momentos que iluminam tudo. O tempo que você não nota que está passando. É isso que faz o resto valer."

Morpheus. (we’re just two lost souls living in a fishbowl. I  really  wish you were here)

quinta-feira, 3 de março de 2011

Para Rebecca

Aos quinze anos você passa a ter seu destino em suas mãos.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

sobre existir razão nas coisas feitas pelo coração

Se acontecer algo mais estranho do que ter momentos “Eduardo e Mônica” ao meu coração esse ano, devo me matar antes do fim.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

once I ran to you, now I'll run from you

"Posso me sentar aqui?"

O garoto se referia a última carteira do canto esquerdo da sala, logo atrás de mim. Vi apenas que era baixo e tinha uma mochila preta. Em uma segunda olhada pude reparar nos ombros largos e cabelo cor de qualquer coisa, meio loiro, meio moreno. Mais tarde e mais de perto, nos seus olhos cor de avelã.

Eu disse "Claro", como quem diz "Ora, vá em frente. O que tenho a ver com isso?".

As coisas teriam sido muito mais fáceis se eu tivesse dito "não", pois então eu não teria que dizer adeus.

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Mas por esses dias tenho sempre respondido Sim: torna-se muito mais fácil dizer até nunca mais.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

um porquê

Dentro do ônibus, por não me restar muitas alternativas, costumo observar as pessoas. E quarta-feira, no final da tarde, prestei atenção numa mulher de meia-idade. Ela era bem comum: morena, baixa, pouco em forma, roupas simples. Mas ela puxou sua bolsa para frente e começou a revirar tudo que tinha lá dentro num gesto feminino que sempre me faz sorrir, de tão característico.

Tirou seus óculos da bolsa e passou a procurar algo mais.

"Se ela procurava pelos seus óculos, é claro que agora vai pegar um livro com final feliz para passar o tempo", pensei.

Só que ela tirou contas para pagar.

Fiquei triste. Mas as coisas são assim e esse é um dos porquês.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

coisas frágeis

"Histórias, assim como pessoas, borboletas, ovos de aves canoras, corações humanos e sonhos, também são coisas frágeis, feitas de nada mais duradouro do que 26 letras e um punhado de sinais de pontuação. Ou então são palavras no ar, compostas de sonhos e ideias - abstratas, invisíveis, sumindo no momento em que são pronunciadas - e o que poderia ser mais frágil do que isso? Mas algumas histórias, pequenas, simples, sobre gente embarcando em aventuras ou realizando maravilhas, contos de milagres e de monstros, duram mais do que todas as pessoas que as contaram, e algumas duram mais do que as próprias terras onde elas foram criadas."

Autor: Neil Gaiman.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

carta a este dia perfeito

Querido Dia,

Por que foste tão frio comigo hoje? Teu olhar reluzente mal tinha aquecido minha pele quando se tornou nublado. Mas não te preocupes, não precisas de perdão. A decisão de sair debaixo das cobertas para te encarar foi minha e, graças a Gan, não me arrependo.

Pois dia, tu foste tão bom comigo, apesar do teu mal humor. E não pestanejes! Sei que sempre me fazes rir, mas dar gargalhadas de doerem os ossos? Eu gostaria de lhe contar resumidamente, fazendo uma compilação dos melhores momentos, mas o momento durou 24 horas.

Começou com o nada, naturalmente. Este nada só tinha lugar: minha cama e suas inseparáveis cobertas, travesseiros e ursinhos. E se o nada pode ser alguma dessas coisas, ele era bom e escuro, sem sonhos. De fato, as coisas boas não duram para sempre (and we both know hearts can change) e logo me levantei para ir para escola.

Quando chego lá, a primeira coisa que me dizem é:

"Que 'cê tá fazendo aqui? Não veio ninguém!".

Caro Dia, foi uma professora ligeiramente rica quem me disse isso. Mas sem problemas. O ninguém incluia outras quatro guerreiras. Vi o final de "Shall We Dance" com elas, um pote de brigadeiro e risos.

Também recebi abraços espontâneos de um garoto estranho que deu muitos gritinhos histéricos ao ver o estêncil de um rockstar drogado com jaqueta de couro, óculos escuros e cartola. Meninos ligeiramente interessantes como ele só são interessante porque tem interesses bem específicos, é o que sempre digo.

Saí  da escola acompanhada por ele, por sua tão amada amiga, e por seus violões.

 Eles precisavam de ajuda com o violão e começaram a imaginar como seria perfeito se encontrássemos um senhor sábio e habilidoso com instrumentos para nos socorrer, como num filme. Me fizeram lembrar de uma cena mágica em "O Talismã", do Stephen King. Jack Sawyer, em frangalhos, encontra um senhor negro no estacionamento do shopping. Se chamava Bola de Neve e tocava blues com sua guitarra. Há um diálogo em que o Jack chora muito por carregar o mundo nas costas. Um pouco engraçado lembrar desse capítulo, porque ele não parecia especial.

Porém, enquanto tocavam Natasha, este mesmo Bola de Neve, Dia, surgiu na nossa frente pedindo:

"Posso tocar uma música?"

Nós três trocamos olhares até que o garoto sorriu como uma criança, do jeito que ele sempre faz, e disse:

"É claro", lhe entregando o violão.

Sentado no chão da praça em frente a prefeitura, ele tocou "Aquarela".
            "E o futuro é uma astronave/ Que tentamos pilotar/ Não tem tempo, nem piedade/ Nem tem hora de chegar/ Sem pedir licença/ Muda a nossa vida/ E depois convida/ A rir ou chorar..."

O sorriso que despontou em meus lábios só desapareceu com a música. Eu só pensava na beleza disforme do mundo.

  Mais tarde, quando eu imaginava qual seria o nome do misterioso músico, choraste. E quando escureceu, continuavas chorando. Choraste como uma criancinha que perdeu seu brinquedo favorito. Eu não sabia o que fazer contigo, mas como sei que queres sempre meu bem, saí de casa novamente.

Encontrei as pessoas que tu mesmo me enviaste, diretamente do céu. Foi com elas que ri e comi pizza. Porque quando és frio comigo, Dia, meu consolo é calor humano e pizza quente. E, no final, um livro.

Carinhosamente,
de uma amiga que lhe dá valor.